FOTOGRAFIA NO BRASIL
Desde seu nascimento, no século XIX, a fotografia – e os debates que a acompanham – revela uma tensão entre fotodocumentação e foto artística, e, mais claramente, a partir dos anos 1950, entre fotografia figurativa e abstrata. A história da fotografia no Brasil remonta à chegada do daguerreótipo ( Aparelho primitivo de fotografia, inventado por Daguerre , que captava a imagem em uma câmara escura) ao Rio de Janeiro, em 1839, e ao francêsHecule Florence(1804- 1879)
Entre 1840 e 1860, o recurso fotográfico difunde-se pelo país. Os nomes de Victor Front(1821-1881), Marc Ferrez(1843-1923), Augusto Malta(1864-1957), Militião Augusto de Azevedo(1837-1905) e José Christiano Junior 18 -1902) se destacam como pioneiros da fotografia no país. O valor expressivo e também documental de suas obras, dedicadas ao registro de aspectos variados da sociedade brasileira da época – por exemplo, os escravos de Christiano Júnior, ou a paisagem urbana captada por Militão no Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo, 1862-1887 -, vêm atraindo a atenção de pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento.
À fotografia como documento, opõe-se a ideia de fotografia como ramo das belas-artes, uma ideia já em discussão em fins do século XIX.
Os anos 1940 são considerados um momento de virada no que diz respeito à construção de uma estética moderna na fotografia brasileira. Trata-se de pensar novas formas de aproximação entre fotografia e artes.
Em São Paulo, no interior do Foto Cine Club Bandeirantes, observa-se a experimentação de uma nova linguagem fotográfica, em trabalhos como os de Thomaz Farkas(1924) e Geraldo Barros (1923-1998).
Os trabalhos de Farkas desse período permitem flagrar a preocupação com pesquisas formais, exploração de planos e texturas, além da escolha de ângulos inusitados, como em Escada ao Sol (1946). Geraldo de Barros, faz notar-se pelas cenas montadas, pelos recortes e desenhos que realiza sobre os negativos. Inaugura uma vertente abstrata na fotografia brasileira, como indica sua mostra Fotoformas, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand- MASP, em 1950. As sugestões de seu trabalho serão retomadas por novas gerações de fotógrafos no interior da chamada Escola Paulista de fotografia, como nos trabalhos de Anna Mariani(1935) e João Bizarro Nave Filho. O que não quer dizer que o filão figurativo tenha sido abandonado, como atestam as produções de Claudio Puggliese e Eduardo Ayrosa. No Rio de Janeiro, o nome de José Oiticica Filho(1906-1964) aparece como outra alternativa à característica documental do meio. O Túnel (1951) representa um exemplo das montagens e da valorização do trabalho em laboratório que tanto atraíram o fotógrafo.
Ainda nas décadas de 1940 e 1950, em que se observa a aproximação da fotografia com as artes plásticas, pelo amparo do concretismo e neoconcretismo nota-se a franca expansão do fotojornalismo no país, nas revistas O Cruzeiro e Manchete.Jean Manzon (1915-1990), José Medeiros(1921-1990), Luís C. Barreto,Flavio Damm(1928) e outros, fizeram da fotografia elemento ativo da reportagem. Além dos profissionais contratados, os órgãos de imprensa se valiam de colaboradores, como Pierre Vergerr(1902-1996) e Marcel Gautherot(1910-1996), assíduos em suas páginas. Quanto aos jornais, o Última Hora parece ter sido o primeiro a dar destaque à fotografia, recrutando profissionais como Orlando Brito(1950), Walter Firmo( 1937) e Pedro Martinelli(1950. Os anos 1950 marcam ainda o anúncio de um mercado editorial ligado à fotografia, seguido pela criação de revistas especializadas; entre as mais importantes estão a Iris, fundada em 1947, e a Novidades Fotoptica, depois Fotoptica, criada em 1973 por Thomas Farkas. Ao lado da expansão de um mercado para o profissional da fotografia, nos anos 1950 e 1960, observa-se a entrada cada vez mais evidente dos trabalhos fotográficos nos museus e galerias de arte. As décadas de 1960 e 1970, por sua vez, conhecem uma produção crescente que continua a oscilar entre trabalhos de cunho mais documental e outros de caráter experimental. Os estudos do povo e da cultura acentuada por Gautherot, Verger e H. Shultz é seguida por Maureen Bisilliat(1931) e Claudia Andujar(1931), em 1960 e 1970, e posteriormente por Milton Guran (1948), Marcos Santilli(1951), Rosa Gauditano( 1955).
O nome de Sebastião Salagado (1944) deve ser acrescentado à lista. Repórter fotográfico desde a década de 1970, Salgado realiza ensaios temáticos dedicados às questões sociais e políticas candentes, como os da década de 1990: Trabalhadores, Serra Pelada, Terra e Êxodos.
A realidade social, as cenas urbanas e os pobres conhecem novo tratamento nos trabalhos de Miguel Rio Branco (1946), desde os anos 1980, quando fotografa o cotidiano de Salvador. A explosão de cores, a granulação da imagem e os ângulos inéditos recolocam o problema da relação entre a fotografia e a pintura As contribuições recentes de Rochelle Costi(1961), Vik Muniz( 1961), Arthur Omar(1948), Rosângela Rennó( 1962) e Cassio Vasconcellos(1965) e muitos outros apontam para as possibilidades abertas no campo das experimentações fotográficas.